quinta-feira, 18 de novembro de 2010

P.S.: EU ADORARIA...



Comecei a carta assim...
como quem quer dizer nada:
Eu adoraria...
Adoraria ser como essas mulheres
que nunca dizem não.
Adoraria, de coração, ser como aquelas
que jamais perguntam,
nunca percebem, nada enxergam.


Adoraria viver como elas,
as que choram a tristeza das novelas e se riem das comédias caricatas.
Queria sim, ser uma mistura de Branca de Neve
e Gata Borralheira, entre a simplicidade e a humildade.
Adoraria viver sem questionar,
viver de aceitar, viver para apaziguar.
Sinceramente, adoraria passar pelos dias
com a calma de quem tece e a paciência de quem cozinha.
E adoraria, ainda, varar as noites na conformidade
dos carinhos rotineiros, dos corriqueiros beijos.
Adoraria, imensamente , viver essa vida honesta
e, mais ainda, jurar que a felicidade batera à minha porta.
Adoraria... Mas, sinto dizer... Não sou dessas mulheres
que cedo aprendem a sussurrar “eu adoro”
para tudo o que sua alma entristece.
Não vivo a calma dos dias nem o sossego das noites.
Não quero o convencional, a moda não me atrai.
Não quero ouvir as velhas músicas.
Não quero rir de piadas repetidas.
Não quero acordar igual a cada manhã.
Não quero saber o que virá no momento seguinte.
Não quero ensaiar a vida para representá-la
sempre num idêntico palco,
ao som da mesma trilha sonora.
Quero rasgar as roupas, desfiar os cabelos,
dançar com a alma, recriar a cada manhã o desassossego,
esperar a todo momento pelo inédito
e inesquecível sabor do acaso.
Adoraria ser como aquelas mulheres
que todo homem comum aprecia.
Eu adoraria...
Mas escolhi transpor o tempo,
vestir a capa de heroína.
Quero viver a aventura da esperança
nas asas de ventos perturbadores
que sopram com intensidade a surpresa.
Porque aprendi que só vale a vida
se os dias forem mais do que prometem.

P.S.: Eu adoraria...

Imagem: Alta Definição por Roberto Beto



Nenhum comentário:

Postar um comentário